Com a ascensão dos aplicativos de corrida, os táxis pareciam ter ficado para trás em algumas cidades; mas em Tubarão, eles resistem às tecnologias e continuam sendo requisitados por uma parcela dos tubaronenses que não abrem mão dos serviços deles
Por volta de 18h, sentei-me num dos bancos da Praça Sete de Setembro, no Centro de Tubarão. Nos dez minutos que fiquei esperando, dois táxis chegaram. "Agora vai demorar para eles arranjarem corrida", pensei. Ledo engano. Num deles, entraram três passageiros; uma avó com seus netos. Noutro, uma senhora embarcou. Então, já não havia táxi para ninguém. Disputados os veículos.
A Praça 7 de Setembro, no Centro de Tubarão, é conhecida por ser um dos pontos de táxi da Cidade Azul. Em 2022, haviam 43 taxistas registrados, mas o número, segundo os próprios taxistas, é maior. “Devem ter uns 70, 80, por aí”, mencionou um dos motoristas que saía do carro após uma das corridas.
Altair Mendonça Jacinto, mais conhecido como Grilo, trabalha como taxista em Tubarão desde 2008, embora seu primeiro táxi tenha sido adquirido em 1986, trabalhando na rodoviária velha. Naquela época, ele ainda dividia seu tempo entre o trabalho de taxista e a profissão de caminhoneiro, transportando cargas para o Nordeste. “Sempre tive vontade de trabalhar como taxista, mas foi em 2008 que decidi me dedicar exclusivamente a isso”, conta Grilo, que ganhou o apelido ainda criança por gostar muito de carros e estar sempre andando de um lado para o outro nas oficinas mecânicas.
Atualmente, ele e sua esposa, Cilene Maria da Silva, possuem dois pontos de táxi na cidade. O taxista explica que escolheu essa profissão como um investimento para o futuro, especialmente pensando em sua aposentadoria. “Sempre gostei de dirigir, e o táxi me pareceu uma boa opção para continuar fazendo o que gosto, mesmo depois de parar com o caminhão”, diz.
Grilo também é presidente do Sindicato dos Taxistas de Tubarão, posição que trouxe desafios, especialmente com a chegada de aplicativos como Uber e 99 na cidade. “No começo, a concorrência não nos impactou tanto, mas com o passar dos anos, a coisa apertou. O número de carros e aplicativos cresceu, e a concorrência é desleal”, afirma. Para entender melhor o que estava acontecendo, Grilo chegou a cadastrar seu próprio carro em um dos aplicativos. “Trabalhei um tempo, mas logo percebi que não compensava. Isso é mais um bico, não dá para ser a única fonte de renda, a menos que a pessoa esteja desempregada e precise sustentar a família”, comenta.
Apesar de ter vivido situações complicadas, como assaltos a colegas de profissão, Grilo afirma que nunca passou por algo realmente grave. “Já fiz corridas longas, para lugares como Curitiba, Blumenau, Florianópolis e Lages, mas no geral, nosso trabalho é mais tranquilo, com uma clientela fixa de aposentados e pacientes”, explica.
Contudo, ele admite que o faturamento caiu pela metade desde que começou em 2008. “Antes, ganhávamos bem mais. Hoje, com a concorrência dos aplicativos e a falta de turismo na cidade, ficou bem mais difícil. Tentamos modernizar o serviço, criamos até um aplicativo em 2016, mas a maioria dos taxistas, que são mais velhos, não se adaptou. No fim, não conseguimos manter o aplicativo por falta de adesão”, conclui.