Foi numa tarde de domingo que se deu a inauguração do Cine Teatro Mussi, localizado em Laguna. Às 15h do dia 17 de dezembro de 1950, a população da cidade reunia-se nas proximidades do espaço, recém construído, para a solenidade. As bandas União dos Artistas e Carlos Gomes deram o ar da graça. Após uma benção proferida, o povo que ali estava entrou no Cine Teatro, ansioso para conhecer o seu interior.
Foram os irmãos João, Carlos, Mussi e Antônio Dib Mussi, que resolveram erguer o cinema. A construção começou em meados de 1947, em um terreno com árvores onde as crianças costumavam brincar, no Centro da cidade. O responsável pela planta foi o arquiteto suíço Wolfgang Ludwig Rau.
A primeira sessão do cinema aconteceu no dia da inauguração, com início às 21h. O filme era A Valsa do Imperador, uma comédia musical de 1948 que havia recebido três indicações ao Oscar. O teatro lotou, a venda de entradas teve de ser suspensa e muita gente ficou sem assistir.
Os aparelhos e os filmes de sucesso
O Cine Mussi possuía duas máquinas de projeção à carvão, da marca Simplex (que podem ser vistos ainda hoje na antiga cabine de projeção) e poltronas de madeira, que vieram da cidade de Rio Negrinho. Os filmes chegavam em rolos: quando um estava acabando, o projecionista já estava a postos para colocar o outro. Além das máquinas, há um cofre antigo, em que o dinheiro da bilheteria era guardado.
Em seu auge, o Cine Mussi tinha seus 1000 lugares (à época) lotados. Ben-Hur, E o Vento Levou… e os filmes de Dercy Gonçalves faziam sucesso à época. Havia também um toca-discos de vinil utilizado para as músicas do início das sessões. A mais tocada era o Concerto n. 1 para Piano, de Tchaikovsky – a música ficava de fundo até que um sino soava para que o filme começasse.
A televisão e os shoppings
Foi a popularização da televisão e o surgimento de novos modelos de organização comercial (os shoppings) que fez com que boa parte dos cinemas de rua fossem fechados no país. De acordo com registros de moradores mais antigos, Laguna teve em sua história 7 salas de cinema distribuídas pelo que hoje é conhecido como o centro histórico.
O Cine Mussi fecha oficialmente em 1992 – passa a ser utilizado por uma igreja evangélica e depois, por um período, torna-se sede da Secretaria Municipal de Cultura. Na década de 2000, a parte do edifício onde fica o cinema foi interditada por causa da instalação elétrica ser muito antiga. Apenas o setor comercial, nas laterais do prédio, continuou em funcionamento.
A compra do espaço
O espaço foi comprado em 2009 pelo antigo Ministério da Cultura, que fez estudos e desembolsou R$ 812 mil para comprar o prédio, que pertencia à família Mussi, e poder restaurá-lo. Foram cerca de três anos de obras para renovar o prédio.
Foi realizada a restauração geral do edifício, incluindo instalações de segurança, acessibilidade, equipamentos de projeção e sonorização, além de um anexo com camarins, sanitários e área de suporte técnico. O serviço foi promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no valor de R$ 7,23 milhões.
A renovação completa do cine teatro foi garantida com a assinatura de um contrato de cessão com o Sistema Social do Comércio (Sesc). A reinauguração aconteceu em 2014, e, a partir daí, mensalmente havia uma programação de filmes e peças culturais – mas a parceria acabou neste ano.
Sob nova direção
A administração do prédio do Cine Mussi está sob responsabilidade da prefeitura do município. A decisão foi acertada com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) após a devolução do prédio pelo Sistema Social do Comércio (Sesc). A prefeitura planeja trazer algumas das antigas poltronas ao recinto novamente– atualmente, apenas o segundo piso conta com as poltronas originais, no térreo, novas poltronas almofadadas e cadeiras de plástico compõem os assentos.
Além disso, há um plano futuro de fazer com que a rua em frente ao edifício, que liga a Av. Colombo Salles a R. Osvaldo Cabral, seja fechada e uma praça seja construída, criando um espaço de lazer anexo ao Cine Mussi. Para este ano, a prefeitura preparou uma programação especial para o fim de ano e início de 2022 e pretende utilizar o espaço também para exposições culturais, que têm um espaço reservado no segundo andar do edifício.