Sonho dos românticos e terror dos introvertidos, as telemensagens foram uma febre nos anos 2000. Aniversários e datas como o dia dos namorados eram momentos chave para o serviço das telemensagens: as pessoas contratavam um carro todo decorado para ir até a casa da pessoa tocando uma música e, em seguida, alguém ler uma carta, poema ou o que quer que fosse para o homenageado em questão.
Hoje, gradualmente o serviço vem se tornando uma relíquia do passado, embora ainda esteja presente em algumas cidades do país. Em Tubarão, um dos nomes conhecidos por oferecer esse serviço era Adriano Marçal, apresentador de programas de televisão, que se aventurou no ramo com a “Amor sem fim”.
QUANDO TUDO COMEÇOU
Primeiro foi um Gol bola, ano 96. Depois um Palio, uma Meriva e, por último, uma Spin. Adriano Marçal sempre se interessou pelo serviço porque, além de achar bonito fazer as homenagens, sempre esteve envolvido na área da comunicação.
"Eu sempre achei interessante e bonito as mensagens, e como eu já tinha o dom, aproveitei para entrar no ramo. Eu tinha um Gol quadrado e esperei trocar de carro para começar. Os carros sempre foram meus companheiros", diz Adriano.
Adriano permaneceu fazendo os serviços de telemensagem por dezoito anos, do início dos anos 2000 até a chegada da pandemia da covid-19. “Fazia uma média de 70 homenagem por mês. Quando havia datas comemorativas, como Dia dos Pais, Dia das Mães, aí fazia ainda mais”, relembra Adriano.
A HISTÓRIA MAIS MARCANTE
Com tantos anos de estrada, é comum que aconteçam histórias interessantes no ramo, desde pessoas que não aparecem por vergonha a pessoas que se emocionam muito. Ele conta que uma história em particular marcou sua vida nessa profissão: o dia em que uma senhora morreu após receber a homenagem.
"Foi numa festa em Armazém… A senhora ficou tão emocionada durante a homenagem que acabou falecendo”, relembra ele, que disse que estava já no fim do serviço quando o fato aconteceu. “Ela faleceu no final da homenagem, eu já estava quase saindo do local. A família toda estava apavorada e os vizinhos não entenderam nada, era uma festa daqui um pouco velório”, conta.
“Além desta vez, teve um dia em que fiz uma telemensagem num velório em Garopaba, também foi um dia marcante, porque sempre a pessoa que é homenageada está ali na sua frente, dessa vez não”, relembra.
A SAÍDA DO RAMO
Adriano decidiu deixar o serviço principalmente por causa de dois motivos: a tecnologia e a pandemia da covid-19. "Ficou mais fácil com a evolução da internet. Hoje em dia, você pode enviar parabéns para alguém através de um áudio ou vídeo. Com certeza, a tecnologia tomou uma proporção muito grande, e as mensagens foram diminuindo. E então veio a pandemia, e tudo parou", afirma ele.
A pandemia de COVID-19 trouxe ainda mais mudanças nesse cenário. Com o distanciamento social e as restrições de contato físico, as pessoas passaram a depender ainda mais das ferramentas digitais para se comunicarem. O envio de mensagens e publicações nas redes sociais acabou se consolidando como uma nova forma de expressar sentimentos e fazer homenagens. Quem não tem aquele amigo(a) que fica chateado se você não posta uma foto com ele no dia do aniversário?
A SOBREVIDA DAS TELEMENSAGENS
Mesmo com essa realidade se acentuando, as telemensagens ainda sobrevivem em cidades como Curitiba, como conta Jackline Ler, que comemorou os 24 anos em julho de 2023 com a chegada de um carro de telemensagens.
“A minha reação foi de vergonha, muita vergonha, não sabia muito bem o que fazer ou o que falar”, conta Jackline. Num primeiro momento, o carro chegou tocando algumas músicas e animando a festa. “‘Aí toda a galera do aniversário já foi animando junto”, relembra.
Quem organizou a homenagem foi Gabriel, amigo de Jackeline. Dois amigos dela “ameaçaram” fazer a homenagem, mas não tiveram coragem de contratar o serviço. “Eu, toda brava, ficava falando: vocês não sejam loucos! No fim das contas eles ficaram com medo e o Gustavo decidiu arriscar”, conta.
Quando o carro chegou, ela demorou a processar o que estava acontecendo. “Não acreditei muito e quando vi lá, também não acreditei”, relembra. Em seguida, foi lido um texto carinhoso e fofo que Gustavo escreveu, que foi seguido de mais músicas. “Eu imaginava, sim, que ainda existia esse tipo de serviço, mas nunca contratei nem tinha vivenciado algo do tipo”, finaliza.