Tudo começou em 1882, numa disputa entre católicos e luteranos por um espaço no cemitério. Os luteranos queriam construir uma espécie de cemitério particular dentro do cemitério. Houve uma espécie de abaixo assinado em que diversos nomes protestantes ajudariam com uma quantia na compra de parte deste terreno onde se localizaria o ‘cemitério luterano’.
Por fim, em 1894, resolveram mudar o cemitério de lugar. O cemitério municipal, que ficava ao lado esquerdo da antiga igreja matriz de Tubarão, foi transferido para o local onde hoje se encontra. O cemitério foi ampliado nos anos 1920, numa das gestões de Otto Feuerschuette, que foi prefeito da cidade entre 1923 e 1930.
Em 1973, durante seu primeiro mandato, Irmoto Feuerschuette, filho de Otto Feuerschuette, também tentou, assim como seu pai, ampliar o Cemitério municipal, sem sucesso: ele sofreu oposição de um dono de um jornal da época, que conseguiu mobilizar pessoas e impedir a ampliação do local.
A enchente de 74 e a vala comum
Alguns corpos ficaram sem identificação durante a enchente que atingiu a região em março de 1974 . A vala comum foi feita entre o cemitério e algumas casas que existiam à época, em direção ao bairro Congonhas. Os moradores foram contra a construção da vala comum – devido à agitação da população, foi necessário que uma patrulha do Exército viesse ao local para que a cova fosse aberta.
Inicialmente, 17 corpos não haviam sido identificados, mas 5 acabaram tendo a identificação concluída e foram removidos para serem sepultados junto às famílias. À época, a moradora Elisa Rodrigues, que tinha a casa mais próxima das valas, confirmou em entrevista a quantidade de corpos – ela acabou fazendo da vala comum seu jardim: capinava, plantava flores e cuidava do terreno.
Os outros 12 corpos foram transferidos para o Cemitério Horto dos Ipês, quando este foi inaugurado pelo prefeito Paulo Osny May, em 1982 – lá, um monumento foi erguido às vítimas não identificadas.
Há exatos 5 anos, em setembro de 2016, foi realizada a exumação dos corpos para conferir quantas pessoas foram realmente sepultadas na vala comum e transferidas para o Cemitério Horto dos Ipês.
O então prefeito à época da enchente Irmoto Feuerschuette, o coveiro à época dos sepultamentos no Cemitério Horto dos Ipês Nilson Bento Mendes, e o diretor do Arquivo Público Joel Köenig de Souza fizeram um requerimento junto à Companhia de Urbanização e Desenvolvimento de Tubarão para realizar a exumação. Junto a eles, estava José Luís Rodrigues, filho de Elisa .
Como funciona hoje?
Há duas leis municipais importantes que implicam no atual estado do Cemitério. Uma delas é a lei que decretou a suspensão temporária dos sepultamentos – que acabou se mostrando mais duradoura do que se imaginava.
Um decreto municipal de junho de 2016, do prefeito Olavo Falchetti, determinou a imediata suspensão dos sepultamentos no Cemitério Municipal, até a conclusão dos estudos e expedição da licença ambiental pelo órgão competente.
O decreto autoriza, no entanto, que as famílias depositem urnas cinerárias no interior dos jazigos, mediante a uma autorização da administração do Cemitério, e desde que se mantenham intactos os restos mortais já existentes.
Em dezembro de 2019, uma nova lei que dispunha sobre a adequação ambiental do Cemitério Municipal foi sancionada pelo prefeito Joares Ponticelli. Nela, fica definido que as resoluções ambientais dispostas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente devem ser cumpridas no local em até sete anos – ou seja, até 2026, o Cemitério deve se adequar às normas ambientais.
A lei de 2019 define como deve se dar essa adequação, estabelecendo critérios técnicos para casos de ampliação e novos sepultamentos ou fechamento definitivo. Hoje, a Prefeitura realiza a manutenção do Cemitério, realizando a limpeza do ambiente.
A história nos túmulos
Luís Martins Collaço, Geraldo Spettmann, Marcolino Martins Cabral... No Cemitério Municipal de Tubarão estão enterradas pessoas que foram importantes na história de Tubarão e que hoje dão nome a muitas ruas da cidade.
A principal Avenida do município de Tubarão, que liga os mais distantes bairros, leva o nome de Marcolino Martins Cabral, que foi prefeito de Tubarão de 27 de abril de 1933 a 23 de setembro de 1943.
Bernardo Freuser também está enterrado ali. Ele foi um padre católico que nasceu na Alemanha mas veio para o Brasil e foi pároco de Tubarão de 1897 a 1908. Ele idealizou o Hospital Nossa Senhora da Conceição – a rua que tem seu nome fica em frente ao Hospital.
Luís Martins Collaço foi coronel da Guarda Nacional, o posto máximo da força paramilitar e juiz de paz da comarca de Tubarão no século XIX. A rua sai da ponte Nereu Ramos e sobe até a Catedral de Tubarão leva seu nome.
O escritor e cronista Walter Zumblick está enterrado no local. Irmão do pintor Willy Zumblick e autor de obras sobre a cidade de Tubarão, ele faleceu no ano de 1989.