Ele foi avisado por um barulho ensurdecedor de vento e uma poeira que tomou conta do ar. "Foi uma coisa muito impressionante, algo que não imaginava nunca viver na vida, uma coisa muito feia. Não sabíamos de onde estava vindo. Foi levando tudo"
Atualização:
Os bombeiros iniciaram hoje (3) o décimo dia de buscas por vítimas do rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho (MG), que ocorreu no último dia 25.
De acordo com balanço mais recente divulgado pela Defesa Civil de Minas Gerais, 395 pessoas foram localizadas pelas equipes de buscas, 226 continuam desaparecidas e
121 morreram.
Cerca de 200 bombeiros participam das buscas diariamente.
Relato de sobreviventes
Dez dias depois de
iniciadas as buscas, os relatos dos sobreviventes ainda emocionam. São adultos e crianças que atribuem a um milagre
ter escapado da morte.
Aos poucos, muitos tentam retomar o cotidiano perdido pelo desastre do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, a 57 quilômetros de Belo Horizonte (MG).
O produtor rural Ronaldo Gomes de Oliveira, de 41 anos, estava no campo com a mulher, um funcionário e um dos filhos, quando a barragem se rompeu. Segundo ele, foi “avisado” por um barulho ensurdecedor de vento e uma poeira que tomou conta do ar. Foi o tempo para todos correrem até o alto de um morro na tentativa de escapar.
“Foi uma coisa muito impressionante, uma coisa que a gente não imaginava nunca viver na vida, uma coisa muito feia. A gente não sabia de onde estava vindo”, disse. “Eu ouvi um vento, que fazia assim ‘vuuuu’, levando tudo”, acrescentou. “Nunca vi tanta coisa acontecer em tão pouco tempo.”
Ferimentos
O produtor rural, porém, não sabia que o filho Ronan Otávio Gomes dos Santos, de 14 anos, estava nadando no riacho próximo à barragem no momento do rompimento. O estudante conseguiu escapar, buscando abrigo na área mais seca e próxima do riacho. Segundo ele, foi mais de uma hora nadando.
Exausto, Ronan Gomes parou na área seca e desmaiou. Foi encontrado pelo irmão que o carregou por cerca de uma hora e meia até encontrar ajuda. O adolescente ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em observação porque teve muitos ferimentos, inclusive nos olhos.
Após a tragédia, o estudante se emociona e chora com as lembranças. Ele contou que mesmo cansado e sem forças, caminhou pela mata fechada, pisou em espinhos e teve de escapar de aranhas.
“Não estava entendo nada. Foi aí que meu irmão me achou. Eu gritei”, contou o estudante. “Foi Deus que me ajudou”, disse. “Deus me deu outra oportunidade de estar com minha família”, acrescentou Ronan Gomes, que conseguiu levar junto com ele, o escudeiro, o cachorro Tigrão, mascote da família.
Planos
Agora Ronaldo Oliveira e a família buscam um local para retomar a plantação de hortaliças. Mas sem oportunidades, ele faz apenas planos. “Quero voltar a trabalhar de novo, tentar conseguir uma terra porque a nossa já não produz nada e por causa da água que está contaminada.”
Fonte: Agência Brasil
Reuters/Adriano Machado/Divulgação