Geral
04/11/2018 13h00
Medo do governo de Bolsonaro leva a planos de emigração
Brasileiros críticos ao presidente eleito relatam temores sobre integridade física e futuro profissional como razões para deixar o Brasil.
Tem brasileiro querendo fazer as malas depois da vitória de Jair Bolsonaro (PSL) no último domingo (28).
O medo e a percepção de ameaça à integridade física e à empregabilidade seriam os grandes motores do que pode se configurar como uma nova onda de fuga do país, incorporada àquela de 2016, que ascendeu com as crises econômica e política iniciada nos anos Dilma Rousseff.
Naquele ano, houve um salto de 40% no número de brasileiros que entregaram à Receita Federal sua declaração de saída definitiva do país -documento em que o cidadão afirma não ter mais renda nem residência fixa no país.
Agora, dados de ferramentas de busca apontam para alta na procura por informações sobre países e maneiras de emigrar.
Na última semana, a pesquisa por "países fáceis para imigrar" cresceu 70%. Nos últimos 30 dias, aumentaram mais de 350% as buscas relativas a como morar no Uruguai e 160% sobre imigração no Canadá.
Nos últimos 90 dias, as buscas por informações sobre a vida em Portugal aumentaram mais de 200%. No caso dos EUA, o aumento foi de mais de 110%.
Por trás dos dados estão histórias de pessoas que temem sofrer violência física ou sanções no campo profissional, motivadas por homofobia ou discriminação política.
O professor carioca de sociologia Gustavo de Souza, 33, quer ir para o Canadá. "Só a sombra do Escola sem Partido já piorou muito meu trabalho. Sob Bolsonaro, eu me sinto ameaçado quanto à minha empregabilidade", diz.
A pedagoga piauiense Olympia Saraiva, 40, avalia que será possível para sua família emigrar para Uruguai ou Paraguai. "Eu e meu marido sempre fomos militantes de esquerda, ativos em movimentos sociais. E, nessas eleições, nossa relação com familiares e vizinhos piorou muito. Tenho medo de sermos agredidos."
Gabriela (nome fictício), 37, que tem uma carreira de sucesso na indústria do entretenimento, começou a procurar oportunidades de trabalho na Europa. "Com a área cultural sob ataque e a ameaça de extinção do Ministério da Cultura, não vejo como seguir atuando no Brasil."
A advogada Joana (nome fictício), 32, funcionária pública, diz ter sido censurada por sua chefia durante a campanha e começou a procurar por bolsas de mestrado no exterior.
"Tenho a impressão de que quem votou em Bolsonaro acha que, se você não votou nele, é automaticamente petista ou comunista, como se as pessoas soubessem direito o que é comunismo", diz ela, que pede para que sua identidade fique oculta "para preservar minha integridade física e mental".
Anonimato é também o que pede uma professora de 30 anos de Brasília, cujo marido é funcionário público federal e teme perseguição no trabalho. Ela admite que a motivação para a intensa busca por programas de pós-doutorado no exterior é o medo.
"Como última possibilidade, iríamos sem bolsa mesmo. Temos uma reserva de dinheiro e, se a coisa ficar de um jeito tenebroso, que nos coloque em risco, sairíamos sem nada certo", afirma.