Longe das cenas cinematográficas de horror, um pequeno eremitério em São João do Itaperiú abriga um dos dois padres exorcistas nomeados pela Igreja Católica em Santa Catarina. Padre Carlos Afonso Gonçalves de Sousa, 59 anos, afirma que o exorcismo não é uma profissão ou uma qualificação, mas sim um dom divino. Desde 2010, ele vive em isolamento, dedicado à oração e ao atendimento de fiéis em busca de conselhos espirituais. Mas sua rotina tranquila é, ocasionalmente, interrompida por encontros com o que ele define como manifestações demoníacas.
"O diabo vem aqui desde 2022, quando comecei a exercer a função. Ele entra e sai calado. Com uma jovem de 14 anos, possessa, eu mandei ele calar a boca. Desde então, quando a possessão muda, eu sei que é ele. A gente sente a energia, e é a pior que tem", conta o padre.
Nascido no Acre, Carlos seguiu uma vida comum até os 30 anos, quando decidiu ingressar no seminário em Joinville. Formado em pedagogia e terapia ocupacional, ele encontrou na religião seu verdadeiro chamado. Hoje, como exorcista, reconhece que seu dom já se manifestava desde a infância.
"Hoje eu entendo o que acontece comigo. Eu percebia coisas que outros não viam. Algumas pessoas têm essa abertura espiritual, o que pode torná-las mais vulneráveis à possessão", explica.
O Ritual de Exorcismo e o Diagnóstico Espiritual
Antes de qualquer rito, os fiéis passam por uma avaliação em Joinville. Com conhecimentos em psicologia e psiquiatria, padre Carlos identifica sinais de problemas espirituais ou transtornos psicológicos.
"Temos uma equipe de apoio, com uma psicóloga e um médico. Muitas pessoas que chegam aqui precisam mais de ajuda psicológica do que de um exorcismo. Quando há sinais de possessão, seguimos com o ritual."
Durante a cerimônia, o possesso é amparado por auxiliares. O padre, munido de um crucifixo e do livro de rituais, conduz as orações. Em alguns casos, manifestações impressionantes ocorrem.
"Uma mulher de 40 anos chegou aqui com sete meses de gravidez. Durante o exorcismo, sua barriga cresceu até parecer de nove meses. Ao final do ritual, voltou ao normal, como se tivessem estourado uma bexiga."
A Missão dos Exorcistas na Igreja Moderna
O ministério do exorcismo é regido pelo Código de Direito Canônico e só pode ser exercido por sacerdotes nomeados pelo bispo. Atualmente, há 46 padres exorcistas em atividade no Brasil, membros da Associação Internacional de Exorcistas (AIE).
"A Igreja sempre combateu o mal. O próprio Cristo expulsava demônios. Nossa função é oferecer apoio espiritual e discernimento, sempre com preparo e estudo constantes", explica o padre João Paulo Veloso, porta-voz da AIE no Brasil.
Com mais de uma década dedicando-se ao exorcismo, padre Carlos afirma que seu papel não é provar a existência do diabo, mas ajudar aqueles que sofrem. "Não se trata de terror, mas de fé e esperança."
Apesar do isolamento, sua missão continua a atrair fiéis em busca de alívio para suas aflições espirituais.