A médica Ellenn Salviano, que usou uma embalagem de bolo como um respirador para salvar a vida de um bebê de três meses no interior do RN, disse que improvisar esses equipamentos é "mais comum do que se imagina" na rotina do Sistema Único de Saúde (SUS).
Ellenn trabalha em três hospitais públicos e no Serviço de Atendimento Médico de Urgência no RN e conta que, em uma semana, fez três "respiradores improvisados".
De acordo com Ellenn, o bebê já estava com cianose, uma condição médica que afeta o paciente com má oxigenação do sangue, e apresentava manchas roxas na pele.
"Se ele passasse mais tempo assim, o risco era de uma parada cardíaca. O próximo passo seria intubar, o que seria muito difícil para o paciente. Iria reduzir a chance de sobrevida dele", revelou.
Ainda de acordo com a médica, ela e sua equipe já tinham improvisado diversos outros capacetes como o usado com o bebê, principalmente no Samu. Em uma semana, a máscara do bebê em Santa Cruz foi a terceira que ela fez.
A criança passou cerca de quatro horas com o equipamento, até a chegada de materiais emprestados pelo Hospital Universitário Ana Bezerra, em Santa Cruz. De acordo com a médica, o tempo foi suficiente para ajudar na recuperação da criança, que retomou a oxigenação a níveis "quase normais"
Hood é uma espécie de capacete de acrílico usado para aumentar a concentração de oxigênio em torno da cabeça da criança. Segundo a médica, o equipamento custa, em média, R$ 500.
A médica ressalta a parceria e o empenho da equipe para que os pacientes tenham o atendimento necessário. "Eu tenho uma equipe, a gente não precisa escolher paciente, não precisa escolher problema. O problema vem e junto com a equipe eu sei que a gente vai dar um jeito, o paciente vai ter o atendimento que precisa".
"Eu trabalho em serviços particulares, é fácil, eu tenho tudo à mão, mas no SUS não. No SUS eu tenho que sair de casa pensando todos os dias como é que eu vou me reinventar", diz.
O bebê de 3 meses deu entrada no Hospital Municipal de Santa Cruz no último sábado (8), com quadro de desconforto respiratório grave, congestão nasal, febre, rinorreia, vômitos e diarreia. Na segunda-feira (10), quando assumiu o plantão, a médica Ellenn Salviano improvisou um "respirador" com uma embalagem de bolo para o bebê.
O município informou que o hospital não é referência em urgência materno infantil e que a médica plantonista usou a embalagem de bolo para montar um leito semi intensivo e atender a necessidade criança enquanto aguardava regulação para leito de UTI.
A mãe do bebê disse que ele chegou ao hospital em Santa Cruz (RN) "muito debilitado". Segundo a mãe, Kadja Juliane, o bebê possui um quadro delicado de saúde. Ele tem hidrocefalia, usa uma bolsa de colostomia e também tem síndrome de Dandy-Walker, uma malformação no cérebro que pode causar problemas no desenvolvimento motor e aumento progressivo da cabeça.
O bebê foi transferido na manhã de terça-feira (11) para Natal, onde passou a receber tratamento no Hospital Infantil Varela Santiago.