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07/04/2024 19h31

Rastros do carvão: a chegada da CSN à Amurel há 80 anos e o legado para os dias de hoje

A subsidiária da Companhia Siderúrgica Nacional fez parte da história da região e deixa rastros não tão resolvidos até hoje
Rastros do carvão: a chegada da CSN à Amurel há 80 anos e o legado para os dias de hoje

Os quatro silos gigantes e a enorme estrutura enferrujada presentes em Capivari de Baixo são resquícios dos tempos de glória da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) no sul de Santa Catarina. Fundada em abril de 1941, durante o governo de Getúlio Vargas, a Companhia tem mais de 80 anos de atuação no país, deixando rastros por onde passou e não está mais presente.


Foi a desistência da United States Steel – uma empresa dos EUA – em participar da construção de uma grande indústria siderúrgica no Brasil que mobilizou o governo brasileiro a levar adiante o empreendimento por meio da criação de uma empresa nacional; a CSN surge através de um financiamento estrangeiro de US$ 20 milhões junto à agência de créditos oficial dos EUA.


Distante de sua sede em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, a presença dos rios e da ferrovia que atravessava Capivari de Baixo fizeram da localidade a escolhida para a instalação da subsidiária da CSN, que ficou conhecida como o “lavador de carvão”.


O carvão, que vinha de Criciúma e Siderópolis através da ferrovia, era lavado e beneficiado (uma série de processos realizados para eliminar impurezas existentes no carvão). Depois, era armazenado nos silos e seguia novamente de trem até o Porto de Imbituba – de lá, partia para Volta Redonda (RJ), onde era utilizado na produção do aço.


A estatal veio parar aqui em 1943, sendo grande responsável pelo crescimento populacional da região. A atividade econômica de Capivari de Baixo, à época ainda pertencente a Tubarão, era basicamente agrícola – o que acabou mudando com a forte presença operária.


Mesmo após ter sido privatizada na década de 90 e encerrado as atividades no município, a CSN mantém até hoje um patrimônio imobiliário enorme no município.


São 28 terrenos espalhados pela cidade. O maior deles, onde funcionou o lavador, possui cerca de 140 mil metros quadrados – desde o encerramento da empresa no município o local não recebeu nenhuma atividade produtiva. Os outros terrenos são menores e estão distribuídos pelo município.


Um jornal para a todos contemplar


A Companhia Siderúrgica Nacional criou em 1953 O Lingote. Era um jornal quinzenal editado pelo serviço de relações exteriores da Companhia – eles editavam no Rio de Janeiro e encaminhavam à agência da Varig, em Tubarão; em seguida endereçadas aos operários. O jornal circulou de março de 1953 a abril de 1957, completando 100 edições. (Lingote significa lâmina ou barra de metal fundido).


"Com o jornal, tivemos a impressão - nós que trabalhávamos num ponto distante dos núcleos de maior expressão da Companhia - que fomos levados, no espaço e no tempo, paraas suas vizinhanças", escreveu um leitor à época.


A ideia da CSN era aproximar os operários, trocar notícias e ideias. Numa das páginas eram escritos perfis dos operários, que vinham acompanhados de uma fotografia do mesmo. A maioria dos entrevistados afirmava que o maior desejo era montar uma pequena oficina em sua residência, aumentar a sua horta ou a criação de perus…


Batalha de siglas 


Foi o PND que mudou a situação da CSN. Sim, o Plano Nacional de Desestatização do governo de Fernando Collor. Criado em março de 1990, o PND resistiu ao impeachment do então presidente e foi aplicado pelo seu vice e sucessor Itamar Franco.


A privatização da CSN aconteceu em abril de 1993, quando a empresa foi arrematada por um consórcio de investidores. O leilão das ações da CSN foi realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e aconteceu em meio a protestos.


O Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda (RJ) se dividiu: a nova diretoria apoiou a privatização; a oposição sindical propôs a autogestão da empresa e desenvolveu ações de resistência ao leilão, mas não conseguiu impedi-lo.


Mas antes mesmo da privatização da Companhia, o lavador de Capivari de Baixo havia sido fechado: o processo de demissão de funcionários ocorreu durante o primeiro semestre de 1990.

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Daqui pra frente… 


Tudo vai ser… Bom, tudo vai depender de como o município de Capivari de Baixo vai conseguir dialogar com a Companhia. Em 2021, de acordo com o diretor de Planejamento da prefeitura Mário Latrônico, houve contato da parte da prefeitura. “Houve conversas com a CSN, no início da gestão, sobre as possibilidades que existem em relação ao terreno. A empresa se mostrou amistosa e aberta a desenvolver projetos e processos que sejam executáveis”, contou.


Em 2016 houve a ideia do Parque Tecnológico e Inovação de Capivari de Baixo, que previa a utilização de duas áreas pertencentes à CSN, num total de mais de 42 hectares de terra. O projeto não seguiu justamente por causa da “executabilidade” – era necessário um investimento inicial.


Ao longo dos anos, não tem sido costume da CSN se desfazer dos terrenos que possui. Segundo o diretor de planejamento, a empresa também não indicou interesse em utilizá-lo para fins próprios. “ Tudo indica que o terreno deve permanecer como está, a não ser que empresas ou o poder público se interessem e apresentem projetos executáveis”, afirmou.


A prefeitura conseguiu concretizar o projeto da estrada que liga o município até a BR-101, atravessando o terreno da CSN. É uma forma inicial de entender as formalizações das ideias e propostas e a forma como a CSN quer realizar essas parcerias.


“A manutenção da área está por conta da Companhia. Sempre que o município acha necessário, fazemos contato com a empresa para que seja feita a limpeza”, reiterou o diretor à época.


O Lavador e o operário


Walério Ferreira Gonçalves, 58, natural de Capivari de Baixo, trabalhou lá na década de 80. “4 de junho de 1984, às 4h da manhã. Nunca me esqueço da data, foi quando comecei”, comentou o terceiro colocado num concurso público que contou com mais de mil pessoas.


Com entusiasmo, ele descreve como se dava o processo de lavagem do carvão. “Eu trabalhava na descida de carvão que abastecia as moegas, uma espécie de silo invertido, de onde o carvão caía numa correia enorme que o levava à moagem. Depois disso, iria para a lavagem, onde se tirava as impurezas”, conta. Tirava-se de tudo do carvão: ferro, pedaços de madeira e até animais mortos que vinham nos vagões.


 O funcionamento da lavagem se dava por decantação: colocava-se magnetita (pó de ferro) na água, o carvão 'grudado' nela por magnetismo afundava; era o chamado carvão metalúrgico, que era enviado para Volta Redonda. Extraía-se também o chamado carvão-vapor e carvão energético.


Walério lembra que a empresa era cuidadosa com os funcionários e que recebia bem. “Ganhávamos almoço, roupas para ir e voltar do trabalho e até mesmo a farda que usávamos era avançada para a época em termos de segurança. Eu recebia quase 16 salários por ano, e isso que eu era considerado um operário 3, de menor escalão”, ressalta.


Diferente de muitos colegas, ele não conseguiu recuperar o emprego na justiça. Por serem funcionários públicos concursados, eles não poderiam ser demitidos. Após muito tempo, vários trabalhadores da antiga CSN em Capivari de Baixo conseguiram ser realocados em postos de trabalho do Governo.

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Mais de sete palmos 


Durante mais de 50 anos as águas da lavação do carvão foram lançadas nas bacias. Com a legislação atual e participação dos órgãos ambientais e do Ministério Público, a recuperação destas bacias, localizadas às margens da BR-101, junto ao principal acesso de nosso município.


O processo de recuperação ambiental envolveu as empresas CSN, Rio Deserto, Metropolitana e a GR. Foram 67 hectares cobertos com aproximadamente 6m de profundidade de carvão fino. Retirado o carvão, fez-se a reposição com as cinzas pesadas, da queima das caldeiras do complexo Jorge Lacerda, e posteriormente a cobertura com uma camada de argila. A recuperação é completa quando as gramíneas semeadas brotam, o que pode ser visto hoje no local.


O Ministério Público Federal determinou em 2018 a recuperação ambiental do terreno da CSN onde era feita a lavagem do carvão. A empresa tinha até dezembro do ano passado para realizar a limpeza e recuperação.



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