O trabalho do cinotécnico consiste em encontrar cães que já possuam naturalmente essas características e integrá-los ao contexto operacional. "É uma função maravilhosa, pois permite que esses indivíduos possam expressar sua verdadeira natureza, enquanto colaboram significativamente com o nosso serviço", acrescenta o Soldado Cardoso de Castro.
O que um cão policial faz?
O HC Notícias frequentemente publica matérias relatando grandes apreensões de drogas e outros materiais na região. Grande parte delas é realizada pelos cães policiais, cuja atividade engloba a busca por substâncias de interesse para a polícia, como entorpecentes, armas e até dinheiro com resquícios do tráfico. O olfato dos cães é poderoso, até 60 vezes mais desenvolvido do que o nosso. Em termos de comparação, eles possuem cerca de 300 milhões de células receptoras do olfato, enquanto os seres humanos possuem apenas 5 milhões. Os cachorros são excelentes farejadores.
Além disso, eles desempenham a função de cães de patrulha, que não apenas protegem a guarnição policial, mas também realizam a contenção de indivíduos que possam representar perigo em determinadas situações. Sobretudo em regiões de mata, os cães conseguem farejar pessoas e também efetuar a detenção de foragidos. Eles auxiliam na proteção individual, protegendo tanto a si mesmos quanto os policiais. Os cães são capazes de chegar a locais inacessíveis ou aprimorar operações de forma que os policiais sozinhos não conseguiriam. Além de sua performance operacional, esses cães são também companheiros dos policiais no dia a dia.
Existem duas possibilidades: os cães podem sair do criadouro com 60 dias de vida, e nesse momento o profissional pode escolher o filhote que já possua as características necessárias observadas. A segunda opção, que é mais adotada atualmente pela polícia, é selecionar os cães com uma idade mais avançada, quando é possível verificar com mais solidez a maturidade e toda a energia desejada com maior precisão. "Em geral, os filhotes são muito parecidos. Mas com uma idade mais avançada, conseguimos verificar se as características se mantêm. Selecionamos indivíduos na fase jovem, entre 12 e 18 meses, onde realmente podemos verificar como eles são.", relata Portinho.
Essa forma de seleção reduz a margem de erro e também diminui o tempo necessário para a seleção. Dessa forma, os cães podem começar a atuar mais cedo. O treinamento requer material genético compatível. Sem as características adequadas para essa finalidade, as tarefas acabam se tornando desajustadas. Por isso que certas raças e linhagens tem a preferência. "É necessário o material genético adequado, um profissional que realmente conheça do assunto e os recursos necessários. Essa combinação é essencial para que os resultados finais na operação sejam alcançados.", comenta o policial.
Como é o processo de treinamento?
Dentro de um protocolo de treinamento seguido por um determinado período, são emparelhadas assinaturas químicas de interesse da polícia, como substâncias ilícitas, armas e munições. Conforme o cão percebe e sinaliza a presença dos odores no ambiente, ele recebe uma recompensa, que no caso do Maxx, é uma bolinha com a qual ele adora brincar. No traço genético dos animais, já existe uma inclinação natural para a busca e localização de objetos. Dessa forma, o próprio trabalho torna-se gratificante para o cão.
Durante o treinamento, são utilizados odores-alvo. Existem duas formas de ensinar os odores: uma é a essência criada quimicamente, ou seja, um cheiro semelhante ao odor da substância que a polícia procura nas ruas. Além de ser um produto que não causa danos ao cão, também evita que ele tenha contato direto com os entorpecentes. O treinamento também permite a detecção de diferentes quantidades, desde menos de 10g até mais de 100 kg. "O animal precisa ter na memória o contato com volumes diferentes de odor, para que ele encontre os materiais em diferentes cenários", relata o operador.
A segunda forma de treinamento consiste em impregnar um material com o cheiro real da substância ilícita. "É como se tivéssemos um algodão que é colocado próximo ao pó de café, e após um certo tempo, mesmo que não tenha contato direto com a substância, ele fica com o cheiro impregnado", explica. Diluentes, como creatina, cafeína e outros fármacos, também são misturados nas drogas, e o cão precisa ser capaz de reconhecer esses tipos de materiais, que são comumente encontrados em operações. A manutenção do treinamento precisa ocorrer diariamente, ou seja, a cada dia o cachorro recebe atualizações para identificar os odores de drogas e misturas que são encontradas pela Polícia Militar. A principal ideia é evitar que o cão tenha contato direto com substâncias que possam ser prejudiciais à sua saúde. Desta forma os animais têm apenas interação com o odor ou com a substância em seu estado gasoso.
Nas notícias de apreensão o K9 Maxx muitas vezes aparece com uma cara de “doidão”, extremamente vidrado. Essa pose chega a gerar comentários que brincam como se ele estivesse “alucinado”. O fato é que isso é apenas um truque que os policiais usam para mantê-lo em uma postura legal para a foto:
É utilizado apenas um brinquedo, no nosso caso uma bolinha, para simbolizar a caça, algo que ele perseguiria na natureza. Nessa troca, aproveitando o desejo dele de pegar a bolinha e o impulso natural de gostar de buscar, ele realiza a tarefa de detecção.
"É pura dopamina. Quando o cachorro vê o brinquedo, ele se prepara para perseguir sua presa. Fica numa posição mais rígida, para não perder a oportunidade de capturá-la. A pupila dilatada, a visão de túnel que percebemos, como se ele estivesse espantado, é uma resposta natural, uma fixação no objeto enquanto olha para a bolinha que está sendo segurada atrás do celular."
Ameaças reais
Maxx, o cachorro policial, tem se destacado por suas notáveis apreensões na região. É quase rotineiro nos depararmos com vídeos e fotos do cão encontrando drogas, armas e até dinheiro. Isso é resultado de seu alto nível de treinamento, que lhe permite detectar até mesmo as notas utilizadas no tráfico. Sua participação em uma operação que resultou na apreensão de 600 quilos de entorpecentes evidencia o impacto significativo causado aos traficantes.
Durante as operações de rua, o cão recebe uma série de comandos para orientá-lo. Em determinados momentos, o policial precisa indicar se ele deve se afastar ou se aproximar do material encontrado, a fim de garantir total segurança e precisão na atuação. Esses comandos também são importantes para preservar a integridade do animal, uma vez que os criminosos têm colocado armadilhas próximas às drogas escondidas, que podem causar ferimentos ao cachorro. Por esse motivo, são utilizados diversos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) durante as operações, transformando o cão em um verdadeiro super-herói: óculos de proteção, protetores auriculares para reduzir ruídos intensos, coleiras, identificações, focinheira e até luvas que protegem suas patas fazem parte desse conjunto. Além disso, os "brinquedos" utilizados no treinamento devem ser feitos de materiais adequados, que não apresentem riscos para o animal nem prejudiquem sua mordida.
Infelizmente, na região, o K9 Colt, um cão policial, perdeu a vida em uma das operações. Nessa ocasião trágica, tanto o policial quanto o cão foram atropelados por um caminhão cujo motorista, desatento, não percebeu a presença dos policiais em operação na via.
Cão: uma ferramenta indispensável no trabalho conjunto
Segundo o Soldado Portinho, a região é privilegiada pelo efetivo que possui. A modalidade de canil é uma ferramenta indispensável, atualmente. Todavia, em Tubarão existem outras equipes que ajudam a inserir estes cães no ambiente adequado: "O cachorro dá muito resultado, sim. Mas isso é possível porque temos uma agência de inteligência muito boa. Temos um grupo gestor que nos dá esse suporte. Principalmente com equipes em campo, nossa rádio patrulha, nosso grupo tático, nossa Rocam. Eles possuem expertise e nos inserem nesse contexto. Isso aumenta muito mais o resultado. O cachorro é muito bom, uma ferramenta indispensável, mas é parte de um grande conjunto."
Portinho ainda afirma que o K9 faz parte do processo. Ele relata que o canil do 5ºBPM só tem esse resultado graças ao esforço de várias outras equipes que também acompanham os trabalhos e dão um suporte muito bom.
A aposentadoria animal
Após considerado apto para o serviço, a previsão para o tempo de serviço ativo do animal é de 6 anos. Com a saída do serviço ativo, o cão aposentado geralmente vai para a casa do seu condutor (policial) que o acompanhou durante toda sua carreira, ou também pode ser doado para uma família que preencha determinados requisitos para garantir ao animal a devida assistência, de acordo com suas necessidades individuais.