
Imagine você criar um negócio que ultrapassa gerações. Foi isso que fez Valdemar Fernandes Braga, 76 anos, conhecido “Braga”, que trabalhou por 58 anos consecutivos como cabeleireiro em Tubarão. Ele se aposentou já há 25 anos, mas só parou com os cortes em 2021. A profissão pela qual ficou conhecido na região, e que ainda ama, também passou a ser o trabalho de dois de seus filhos e de três de seus netos.
Essa paixão por cortar cabelo, conforme relembra, começou cedo. Quando ainda era criança, Braga trabalhava com os oito irmãos mais velhos nas lavouras dos pais, no bairro Campestre, em Tubarão. “Plantávamos e vendíamos feijão, cebola, milho. Quando cheguei aos 15 anos mudou minha mentalidade”. Braga cortava os cabelos dos amigos e quis seguir fazendo isso profissionalmente. “O pai não queria no início. Até que concordou e eu fui”. Na ‘Barbearia Cruzeiro’, do Sr. Antônio Cristina, ele aprendeu muito e fez clientela. Foram dez anos no mesmo lugar até montar o próprio salão.
Seu primeiro salão chamava-se “Barbearia Beira-Rio”, ficava na Rua Lauro Muller. Continuou por nove anos ali, de 1962 até meados de 1969. Foi com a ajuda de amigos que conseguiu a proeza de fundar o lugar. “Eu tinha um amigo, o Luiz do ‘Foto Pereira’, que me emprestou 500 reais e com isso eu montei o salão todo”. O dinheiro foi suficiente para comprar duas cadeiras, numa delas em que seu irmão o ajudava. Desde cedo, Braga lembra-se do público, que era assíduo. “Começava 7h e parava 21h. Trabalhava até meia noite de véspera de Natal”.
A família para Braga é resumida numa palavra: amor. Tudo começou com Zilma de Godoy Braga, com quem está há 55 anos casado. Ela tinha 17 anos e ele 20 quando se conheceram. “Eu passava na frente da casa dela, numa bicicleta toda torta. Quanto mais velho a gente fica, mais amor tem pelo outro”, conta, sobre a relação com a esposa. E fora os que seguiram sua carreira, a família de Braga é bem mais numerosa. São quatro filhos ao todo: Jeff, Reinaldo, Márcio e Sônia, e 11 netos. “Nossa família sempre se deu bem”.
Braga nunca saiu de Tubarão, a não ser por dois meses, para uma profissionalização em São Paulo. Hoje morando com a esposa no bairro Vila Moema, num edifício em frente ao Clube 29, ele olha para o futuro com esperança de vir um tempo menos caótico que o atual. “Tem muita confusão de governo”, resume. E uma dica para os leitores do HC, para a vida, é: “Tudo o que a gente faz, tem que fazer com amor. Não interessa a profissão”, conclui.
