Lendas urbanas são contadas e recontadas a gerações, pelo Brasil e por todo o mundo. Algumas como ‘Loira do Banheiro’ ou ‘O Velho do Saco’ sempre mudam um detalhe aqui ou ali, porém permanecem vivas na memória oral, ajudando a construir, boca a boca, o folclore do seu povo.
Eram mais tradicionais antigamente, num tempo em que as pessoas caminhavam longas distâncias e tinham por hábito conversar. Mas não é preciso voltar muito atrás e nem ir muito longe para descobri-las. Conheça alguns contos populares aqui da nossa região: amedrontadores ou absurdos, eles misturam ficção com realidade, instigando a curiosidade de quem ousa ler.
A Casa mal-assombrada em Morrinhos, Tubarão
Um antigo casarão de esquina, abandonado na Estrada Geral da Madre, em Tubarão, é o cenário de algumas histórias arrepiantes. Populares que já passaram pelo local, mesmo em outras épocas, relatam terem presenciado uma assombração.“Já me contaram que existe um fantasma ali, que assombra aqueles que acreditam na sua existência”, diz Mariza Medeiros Pedro, 47 anos, que mora em Tubarão desde criança.
Contam que o fantasma, um habitante da construção há muitos anos, usa de certos artifícios para assustar aqueles que ousam se aproximar: geme assustadoramente, arrasta correntes e emite rangidos que soam como o ranger de dentes. Contam também que luzes estranhas já foram vistas nas janelas, movendo-se velozmente de um cômodo para outro. Fica em Morrinhos, comunidade em que nasceu a heroína Anita Garibaldi. Você tem coragem de ir até lá?
O demônio no baile de Quaresma
É contado que há algumas décadas, o período que antecede a Páscoa – chamado de Quaresma – era seguido à risca pelos católicos em geral. A Igreja pedia que não fizessem festas nem casamentos, porém um conhecido clube de Tubarão, hoje permanentemente fechado, resolveu não acatar a tradição.
Era uma noite de lua cheia, quando num desses bailes – realizado apesar das críticas dos padres – apareceu um rapaz bonito e desconhecido. Moço de atitude e com chapéu elegante, ele tirou algumas mulheres para dançar, deu voltas pelo salão, mas repararam numa estranheza: ao olharem seus pés, viram que canelas de bode entravam-lhe os sapatos.
Segundo a lenda, ao ser percebido, o moço logo adentrou no banheiro e retirou as calças, revelando as pernas de bode e dois chifres abaixo do chapéu. Quando foram atrás, no banheiro, já tinha desaparecido. Só restou um forte odor de enxofre por todo o ambiente.
O túmulo que causa arrepios
Há alguns anos, dois homens, já adultos, buscavam ‘tesouros’ nos cemitérios da região. Abriam os túmulos às escondidas querendo encontrar joias enterradas com os defuntos. Certa noite, no cemitério central de Tubarão, ao se aproximaram de um dos túmulos, pelo que contam, arrepiaram os pelos dos braços de ambos. Sentiram uma presença que não parecia boa. Ao tentarem novamente, o mesmo arrepio, ainda mais forte. Assustados eles fugiram, desistindo da empreitada.
O misterioso túmulo ainda está no cemitério e arrepia quem leva o braço sobre ele. É o caso do tubaronense Luiz Weber, que tirou a prova e é quem conta esta história. Que esconderia a tal lápide? “Há algo lá. Bom não é”, descreve Luiz, sobre a experiência supostamente sobrenatural. Será que a ciência explica essa?
O último casamento no Hotel de Itapirubá
Dario Cabral Neto foi funcionário do Hotel Itapirubá, em Imbituba, entre 1999 e 2000. “Foi apenas por três meses. Saí porque acabou o hotel”. Segundo sua descrição, já era um hotel “em desespero”, com uma crise instalando-se. Nesta época soube, através das fofocas decorrentes, de alguns casos misteriosos ocorridos no seu interior. “Algum tempo antes de minha entrada, não sei dizer quanto, contrataram o hotel para promover as bodas de um casamento”.
Dário conta que o salão nobre foi decorado com flores de várias floriculturas, iluminação revisada, vasos de cristal, moços contratados estacionando os carros. “O mais belo cenário, me diziam no relato”. Os noivos entraram dançando. Houve agradecimento, discurso da noiva e noivo, dos pais, só lágrimas de felicidade. Até que, não se sabe porque, a noiva saiu do salão como se fosse tomar um ar.
“Cumprimentou alguns convidados ao descer a escada. O vestido ainda mais branco embaixo da noite enluarada”. A noiva então teria chegado à área de piscinas. “De repente, ouviu-se um grito, seguido de outros gritos”, conta Dário. Correram convidados, funcionários, familiares, o esposo, mas era tarde: tinha se afogado. A festa acabou abruptamente e a noiva, que antes voltaria de limusine, saiu num carro de IML.
Dizem que com o passar do tempo, começou-se a ouvir choro, um lamento triste à borda da piscina, nas noites enluaradas. “Alguns viam a bela mulher vestida de noiva, sair ou entrar nas águas represadas da piscina”, reconta Dário. Já com o fim do hotel, gradativamente, um esqueleto à beira-mar, outro jovem já relatou tê-la visto. “Contam que foi do último andar do hotel”, diz o ex-funcionário. “Estaria ela buscando alguém para salvá-la?”.
Os murmúrios na delegacia de Laguna
Laguna foi fundada em 1676 e possui, principalmente no Centro Histórico, centenas de prédios e construções antigas. Uma das construções mais umbilicais, onde atualmente funciona uma delegacia de polícia, é a que possui histórias mais aterrorizantes. Segundo contos populares, antigamente o local era uma senzala, cenário de morte e tortura de diversos escravos.
Por isso, policiais que fazem plantões e trabalham durante as madrugadas já teriam afirmado ver os espíritos dos escravos perambulando pelo local. Além disso, há relatos de murmúrios que são constantemente ouvidos pelos funcionários da delegacia. Em 2011, o primeiro programa de caça-fantasmas do Brasil, Visão Paranormal, viajou até a cidade e fez uma investigação na Delegacia da Polícia Civil. As filmagens, em duas partes, podem ser assistidas no Youtube.
O morto que dava caronas em São Martinho
Ouve-se em rodas de conversa que há cerca de trinta anos morava em São Martinho, na comunidade da Sapolândia, uma jovem ia com um homem à discoteca, e pagava carona com ele. Mas sempre era deixada na rua do cemitério e dali ia a pé embora. Certa vez, perguntou ao rapaz onde ele morava e o moço apenas respondeu que era em cima do morro. Como já era noite, ela foi embora, mas no dia seguinte resolveu buscar essa casa. Ao subir o morro, porém, não havia moradias por perto, apenas igreja e o cemitério. Entrou e encontrou um túmulo com o nome do rapaz. Daquele dia em diante, ele nunca mais apareceu.
O túnel ferroviário mal-assombrado?
Um pouco mais distante da Amurel, em Siderópolis, há um túnel ferroviário inaugurado em 1944 que reúne estranhas histórias de uma assombração. Relatos de populares dão conta que uma estranha luz pálida já foi vista acendendo e apagando no seu interior. Dizem também que murmúrios roucos e pedidos de socorro já foram ouvidos por quem se arriscou a andar pelo local durante a noite. Com seus 388, 45 metros de extensão, a estrutura deixa receoso quem é desafiado a atravessá-lo a pé.
Mas será mito ou realidade?
A existência de forças ditas sobrenaturais – ou o que o povo chama de coisas de outro “mundo” – é um fenômeno universal, questionado por diferentes culturas e em diferentes épocas. Ainda que não se possa provar a existência de tais criaturas ou entidades, as histórias servem de entretenimento e para pregar lições nas crianças da região e de todo o mundo. Qual sua opinião: será que existe ou é fantasia?