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05/04/2021 21h14

Especial HC: Uma Cidade Azul guardada na memória

Com o correr das décadas, a pele envelhece e a cidade se transforma. Fábricas viram poeira, avenidas se alargam e o que se viu torna-se joia da memória. Prepare-se para entrar em alguns lugares da Cidade Azul que foram referência em suas épocas. Hoje não existem, mas restam para a semente de ótimas histórias
Especial HC: Uma Cidade Azul guardada na memória
Há quase 70 anos, uma turma da escola subiu no trem em Tubarão para passar um dia na praia. A professora reservou os lugares com a ferrovia e enfileirou os alunos às portas dos vagões. Depois desceram no bairro Cabeçuda, em Laguna, e montaram um piquenique. A locomotiva continuou viagem para Imbituba, desapareceu de vista; mas o dia ensolarado que se seguiu jamais foi esquecido por algumas daquelas crianças.


Em 2021, os trilhos que levavam a esse destino já não existem mais. Contudo, seguem intactos na memória de quem passou por eles. Marcantes em suas épocas, certos lugares da Cidade Azul não podem ser vistos, apenas relembrados. Conheça agora algumas dessas histórias, contadas por quem entrou em fábricas hoje demolidas e trens aposentados.


O trem interurbano em Tubarão 


Um dos meninos da viagem à praia é Dalto Bardini, hoje com 75 anos. Ele andou muito de trem interurbano, até a juventude: tinha 23 quando em 1968 os trilhos, bem como o trem de passageiros, foram extintos em Tubarão. As linhas variavam: de Tubarão chegava-se a Lauro Müller, Criciúma, Araranguá, Urussanga, Siderópolis. “Iam todos de trem para as praias em Imbituba”, relembra o orleanense, morador da Cidade Azul. “O leito da lenha era na Avenida Marcolino Martins Cabral”.


 Ainda criança, Dalto vendia frutas no trem de passageiros e relembra uma história curiosa. Devia oferecer apenas de fora, mas um dia entrou e acabou preso. “O chefe do trem me prendeu numa estação, em Barra do Norte, e soltou na outra, em Pedras Grandes”, conta, rindo. “Esse homem era o avô de Manoel Bertoncini, que foi prefeito em Tubarão. Tive que pegar carona de ônibus para voltar”.


  Dalto tornou-se funcionário e trabalhou por 27 anos na RFFSA, atual Ferrovia Tereza Cristina, construída a partir de dezembro de 1880. A ferrovia é um dos fatores que pintou o desenvolvimento no cenário de Tubarão ao longo dos anos.


Antes do terminal, um presídio


Quando o ex-prefeito de Tubarão, Dr. José Irmoto Feuerschuette, 80 anos, era um garoto do colegial, como ele mesmo define, entre os seus 11 e 14 anos, conheceu uma Tubarão mais “caipira”. Via casas e comércio onde atualmente se delimita o Centro. Em outros bairros, como o Vila Moema, o mato prevalecia. Naquele tempo distante, ele lembra bem, havia um presídio construído no meio da cidade.


“É bem onde está o terminal urbano, perto do mercado público”, detalha o ex-prefeito, que atualmente é médico ginecologista e obstetra. “Eu passava na rua Padre Geraldo Spettmann e via as grades”. Sua lembrança remete a meados de 1950, quando havia somente a Ponte Nereu Ramos na esquina; a Ponte Heriberto Hülse seria construída alguns anos mais tarde.


O prédio de um andar, com pátio, funcionava também como delegacia – tempo de outras leis. Doutor Feuerschuette, que foi prefeito em duas gestões (1973 a 1977 e de 1993 a 1996) acredita que o edifício foi demolido quando já não era presídio, depois da enchente de 1974. Na gestão seguinte, o prefeito Paulo Osny May construiria uma praça no lugar dos escombros. O Terminal Rodoviário José Ghizoni funciona oficialmente desde 2001.

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O aeroporto Anita Garibaldi 


O início dos anos 50 foi marcado por duas obras importantes para Tubarão: a estação de tratamento de água e o Aeroporto Anita Garibaldi. Era domingo, 21 de janeiro de 1951, quando inaugurou-se num dia de festa a tão esperada obra. Durante muitos anos, o aeroporto serviu para aproximar Tubarão de grandes centros urbanos do Brasil.


Os registros das atividades aéreas em Tubarão dessa época são escassos, mas estão sendo objeto de apurada pesquisa para um livro, escrito pelo atual prefeito Joares Ponticelli e pelo relações públicas Ramires Linhares. “Foi um dos mais importantes equipamentos para o desenvolvimento da cidade entre os anos 50 e 60”, detalha Ramires Linhares, que trabalha no projeto desde março de 2020. A publicação está prevista para agosto.


Também como forma de resgatar a memória do antigo aeroporto, está sendo construída próxima à Arena Multiuso a Praça Memorial Aeroporto Anita Garibaldi. Um avião modelo Neiva T-25 Universal virá de Lagoa Santa, em Minas Gerais, para ser fixado na Cidade Azul.


Casa dos Balsini


Construído no início dos anos 1930, o Palacete Balsini ou Casa dos Balsini era uma propriedade privada. Embora frequentada por seletos convidados, sua lembrança arranca suspiros até de desconhecidos: foi uma imponente construção que estampa um período da Cidade Azul. Acabou demolida no final dos anos 70 para dar lugar ao Banco do Brasil. Ao seu lado, uma casa de louças também foi posta abaixo para alargar a Avenida Marcolino Martins Cabral.


A empresa Souza Cruz


Antes de o Empresário Genésio A. Mendes construir o Farol Shopping, aquele terreno servia de base para outra conhecida empresa: a Souza Cruz. Registros da década de 1960 ilustram a importância da construção para a agricultura regional. Depois de plantado, colhido e secado nas estufas, todo o fumo produzido em cidades próximas, até mesmo em Orleans, na atual região da Amrec, vinha para Tubarão.


O que havia não era uma fábrica de cigarros, mas uma usina de beneficiamento de fumo. Depois de beneficiado, seguia para o Rio Grande do Sul. A saída da empresa de Tubarão ocorreu entre 1994 e 1996. No início, o galpão ficou fechado, até 2006 quando o shopping abriu as portas.


Uma curiosidade: a Souza Cruz possuía uma quadra de basquete. Houve um tempo em que o ex-prefeito de Tubarão, Doutor José Irmoto Feuerschuette, presidia a comissão municipal de esportes. Em certa ocasião, trouxeram do Tênis Clube de Campinas, a lenda do basquete brasileiro Emil Rached, de 2 metros e 20 cm de altura. “Foi o maior jogador em altura do Brasil e um dos maiores do mundo. Nós jogamos ali à noite contra ele”, relembra Dr. Irmoto. Em 1976, o local também sediou a edição XXVII do JASC.


Os cinemas do Calçadão


Quando nem Netflix e nem mesmo locadoras existiam, os cinemas eram muito mais comuns. Um dos primeiros em Tubarão, da década de 1950, chamava-se Cine Azul, e ficava na ponta do Calçadão que dá para a Rua Nereu Ramos. Em preto e branco, o gênero de filmes comum à época era o Western – Faroeste –, cujos cartazes eram pintados à mão pelo próprio Willy Zumblick. “Zumblick era sobrinho do proprietário Martinho Ghizzo”, detalha Dr. Irmoto Feuerschuette. O gaiteiro conhecido nacionalmente Pedro Raimundo, natural de Imaruí, chegou a se apresentar no local. “Não dava para entrar de tanta gente”, comenta.


Na outra ponta do Calçadão, mais tarde, estrearia o conhecido Cine Vitória, que ficava em cima do Hotel Vitória. Após a foto acima ser tirada (1994), o cinema foi fechado. No bairro Oficinas também outro cinema foi muito frequentado. O prédio deste continua de pé na Rua Altamiro Guimarães.


Estação de Cargas


Construída em meados dos anos 40, a estação de carga foi utilizada até final dos anos 1960 e início dos 1970. Com o fim do tráfego e destruição das linhas em 1974 pela enchente, a ferrovia priorizou o transporte de carvão vindo das minas de Urussanga, Siderópolis e Criciúma. Ficou desativada até os anos 1980, quando passou a ser usada como garagem dos automóveis da RFFSA. Com a privatização em 1998, ficou ociosa até ser arrendada como academia Vital.


Até os anos 70 os produtos que desciam da Serra passavam pela estação em Tubarão e seguiam para os portos de Laguna e Imbituba e vice-versa. Atualmente, o Supermercado Althoff, no final da Avenida Marcolino Martins Cabral, ocupa o terreno que, em parte, era a estação.


Olhos à frente


O passado traz bons sentimentos de nostalgia e saudade. Em alguns momentos, pode dar a impressão que o município de Tubarão, com seus diversos cinemas, aeroporto e trem de transporte de pessoas, era um melhor lugar para se viver. Mas é atualmente que a Cidade Azul se encontra em sua mais acelerada marcha de desenvolvimento. É com base nas antigas raízes que a população mantém os olhos à frente, enquanto o futuro se aproxima.


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